I
Costura.
Mas antes fia
o fio
do teu labor.
Pacientemente,
como fizeram
os antigos,
rola,
nos teus dedos ágeis,
o fuso,
entrançando
o linho.
E, ao ritmo do coração,
com o teu pé de viagem,
faz mover
o engenho,
numa dança
sem fim,
rodopiando,
célere,
o necessário
fio.
Tens agora
o fio.
II
Busca
então
a agulha.
Dá fogo à forja,
escolhe o ferro.
Aquece-o,
deixa-o ardente
Segura o ferro na tenaz.
Firmemente:
Bate-o então
com o martelo.
Do rubro ferro,
saltam faíscas,
suor que se forma,
reformando o ferro,
afia e rola,
rola e afia,
rebate,
refila,
refaz
os gestos antigos
que repetes e reinventas.
Experimentas.
Mergulha em água.
Falhas?
Recomeças
até ao humanamente
possível.
Tens agora ao fio e a agulha.
III
Falta agora o pano.
No tear,
lanças a lançadeira,
num desvario
vai e vem.
O fio
entertece
um nascente tecido
feito do labor da vida.
trama da tua vida,
e das idas,
dádiva para
as que virão.
Tens agora
a agulha e o pano
e a tua mão ágil.
E em ti,
a imagem
da veste
que procuras.
IV
Podes agora
costurar.
V
No fundo,
é o caminho
das nossas vidas.
Tiras a costura,
pões o pão.
Aí, conheces os segredos da terra.
Tiras o pão.
pões a casa.
Outras área do saber
se desvenda perante ti.
Em tudo que fizeres
terás o teu labor
e o saber ancestral
que partilhas
no tempo de hoje
e projectas
no futuro.
E é esta a aventura,
que tantas vezes
nos parece sem sentido,
inexplicável,
que dá sentido
a tu e eu
aqui estarmos.